A Madrid chinesa

Falar da China em Madrid é sinónimo de Usera, o bairro onde se concentra uma grande parte da comunidade chinesa em Espanha. Desde a década de 1970, foi-se estabelecendo em Madrid um grande contingente de pessoas de nacionalidade chinesa, que procuravam aqui um futuro melhor do que o que então lhes proporcionava o seu país de origem. Hoje em dia, a comunidade chinesa na região de Madrid continua a crescer, segundo os dados oficiais do Instituto Nacional de Estatística, passando dos 33.489 indivíduos recenseados em 2008 aos 63.549 em 2021.

Só em Madrid capital vivem, segundo os registos municipais, 35.985 chineses (Censo Municipal de Habitantes revisado em 1 de julho de 2022), uma quarta parte dos quais reside no distrito de Usera, onde mantêm os seus costumes e as suas tradições milenárias. Uma espécie de “Chinatown” integrada num bairro popular do sul de Madrid. É fácil comprová-lo pela grande profusão de estabelecimentos comerciais chineses na zona. No Centro de Mayores Chinos de Usera, reúnem-se os sócios mais idosos todas as tardes, para uma partida de pingue-pongue, ou para tocar música tradicional.

Apesar disso, o Centro Cultural da China em Madrid não está em Usera, mas sim no bairro de Salamanca, mais concretamente no número 73 da rua General Pardiñas.

Este é o melhor lugar para conhecer de perto a cultura chinesa. O centro oferece cursos de chinês, kung fu, tai chi, pintura a óleo, pintura oriental, culinária, protocolo chinês, etc. Os cursos têm muita procura, pelo que é recomendável estar bem atento para conseguir uma vaga. Resulta mais fácil aceder à biblioteca, à sala de exposições ou ao salão de atos, onde se projetam filmes chineses em versão original, e se realizam colóquios e conferências.

O edifício onde se situa o Centro Cultural da China em Madrid, instituição pública com o patrocínio do governo da República Popular da China, ocupa uma área de 3000 metros quadrados, e encontra-se dividido em dois blocos (A e B), conectados por um pátio central. O primeiro bloco alberga a sala de exposições, a galeria, o salão de chá, a biblioteca, a sala de conferências e as salas de aulas. No segundo bloco encontra-se o salão de atos, a sala de kung fu e de baile, a aula de música e a aula de culinária.

O centro, o quinto deste tipo promovido pelo governo chinês na Europa, a seguir ao de Paris, abriu as suas portas em outubro de 2012, com motivo das comemorações dos 40 anos de relações diplomáticas entre Espanha e a China, é o maior dos centros culturais chineses inaugurados até agora na Europa.

Por último, cabe recordar que o centro cultural Casa Asia também dedica uma parte da sua programação à China, entre outras culturas pertencentes ao continente asiático.

Cada ano, festeja-se a chegada do Ano Novo Chinês, com inúmeras atividades, que têm como epicentro o distrito de Usera.

A celebração do Ano Novo Chinês, que conta com mais de 4000 anos de história, coincide com o início do ciclo dos cultivos, despedindo o inverno e dando as boas-vindas a uma nova estação, pelo que também é conhecido com o nome de “Festival da Primavera” (em 2024 celebra-se o Ano do Dragão, que começa no dia 10 de fevereiro de 2024).

Dança, cinema, gastronomia, música, desporto ou literatura são algumas das atividades escolhidas para dar as boas-vindas ao Ano Novo Chinês, com uma programação composta por uma centena de eventos culturais, em que as propostas mais tradicionais, como a exibição de artes marciais milenárias ou o desfile de dragões e leões gigantes se misturam com a atuação de bandas de rock alternativo, instalações literárias ou palestras, que demonstram a vitalidade da comunidade chinesa em Madrid.

Os dois eventos que congregam mais público são a espetacular cerimónia da Luz e o grande desfile que percorre as ruas de Usera, do qual fazem parte os tradicionais dragões e leões gigantes e as lanternas luminosas, e que conta com a participação habitual das associações de cantoneses, de macaenses e de cidadãos de Hong Kong, para desfrutar da música tradicional e dar a conhecer aos madrilenos os segredos da cultura chinesa e da etnia han, à qual pertence a maioria da população chinesa residente em Madrid.

Em Madrid existem muitos restaurantes chineses, para desfrutar durante todo o ano da rica gastronomia do gigante asiático. Além disso, todos os anos, coincidindo com o início do Ano Novo Chinês (janeiro-fevereiro), realiza-se em Madrid o evento China Taste, a grande festa da gastronomia tradicional chinesa.

Durante todo um mês, os amantes da alta cozinha chinesa podem desfrutar de pratos tradicionais, numa viagem gastronómica ao país asiático, sem ter que sair da cidade, numa rota pelos melhores restaurantes de cozinha chinesa. Existem opções para todos os bolsos, uma vez que cada um dos restaurantes que participam neste evento solidário oferece um menu composto por uma entrada, primeiro e um segundo prato, e sobremesa, por um preço que oscila entre os 23 e os 65 euros.

Em Madrid é possível  disfrutar da culinária de Hong Kong, visitando o restaurante  Hong Kong 70, próximo à Plaza Mayor. Seu cardápio se compõe de pratos caseiros onde predominamn as verduras, dim sum e carnes assadas cantonesas, sem esquecer as sobrnesas. Os chefs, originários de Hong Kong, elaboram receitas da gastronomia tradicional cantonesa, sem adaptá-las aos gostos ocidentais.

Dawei Ding, jornalista, filólogo e especialista em relações internacionais, é o fundador e diretor de China FM, a primeira emissora de rádio da Europa que emite 24 horas em mandarim, na Comunidade de Madrid (FM 97.4), e também para todo o mundo através da Internet.

Integrada no Grupo Radio Internacional, esta é uma emissora generalista, com uma programação de carácter informativo e de opinião, que nasceu com o objetivo de servir de plataforma de comunicação para os mais de 187.988 cidadãos chineses residentes em Espanha (dados do INE atualizados em 2022).